Advogados - Botando Banca


Advogados - Botando Banca


Gilmara Santos

O bom desempenho da economia brasileira está agitando também os escritórios de advocacia. Desde as privatizações na década de 90, as bancas não tinham um movimento tão grande de negócios. Fusões, aquisições, IPOs e operações de private equity estão entre os serviços que apresentaram maior demanda no ano passado e deve se manter também este ano. A estimativa é que a prestação desses serviços represente até 40% do faturamento dos grandes escritórios. No entanto, a crise americana faz os escritórios terem cautela ao falar do futuro. No ano passado, o crescimento médio das bancas foi de 30%. Para este ano, alguns falam em crescimento semelhante ao da economia — e inferior a 10%.

Transformar um escritório de advocacia em empresa foi pioneirismo de Pinheiro Neto Advogados – um dos principais escritórios da América Latina e a mais tradicional banca brasileira. Fundado em 1942 pelo advogado José Martins Pinheiro Neto, a banca tem mais de mil funcionários e cerca de mil clientes, atuando nas quatro grandes áreas do direito: empresarial, contenciosa, tributária e trabalhista. Foi também o advogado que trouxe às bancas brasileiras o conceito de gestão e sucessão que existe hoje. Apesar de ser um escritório à frente do seu tempo, ele tinha um ponto fraco: a sucessão do seu fundador. A descoberta desse ‘ponto fraco’ ocorreu há 15 anos, quando a banca contratou uma consultoria norte-americana especializada em escritórios de advocacia. A partir daí, começou o processo de sucessão, com a criação de um grupo executivo e um comitê. E mesmo com a morte do Pinheiro Neto em 2005, o escritório se mantém como uma das principais bancas do País. Para se ter uma idéia, só nos primeiros três meses deste ano a banca esteve envolvida em mais de 25 operações de fusão e aquisição. Entre eles, a compra da Livraria Siciliano pela Saraiva, um negócio estimado em mais de R$ 60 milhões. No ano passado, a banca assessorou mais de 100 operações, contando com as não-concluídas.

No fim de Abril, a Sadia anunciou uma joint venture com a Kraft Foods Brasil e Kraft Foods Holdings, para fabricação e comercialização de queijos no Brasil. O valor do investimento inicial para a implantação do negócio é estimado em R$ 30 milhões. O início das operações desta nova joint veture deverá ocorrer na segunda quinzena de agosto e o faturamento pode atingir R$ 40 milhões no primeiro ano de atividades. Esse é apenas um dos meganegócios assessorados pelo TozziniFreire, banca paulista que está no ranking dos cinco maiores escritórios brasileiros. Com mais de mil funcionários, entre advogados e o pessoal de apoio, o TozziniFreire participou de 56 operações de fusão e aquisição no ano passado. Este ano, apenas nos três primeiros meses, participou de outras 50 operações. O resultado é o crescimento também no número de funcionários do escritório. Em 2007, a banca teve um aumento de 30% nas contratações de profissionais para a área de fusões e aquisições. E em 2008, a expectativa é de um crescimento, em contratações, estimado em 15%. Outros três escritórios que lideram o ranking dos cinco maiores do País são: Demarest & Almeida Advogados, Meyer, Sendacz e Opice Advogados; e Mattos Filho, Veiga filho, Marrey Jr. e Quiroga Advogados. O Mattos Filho, por exemplo, só nos primeiros meses deste ano, trabalhou em pelo menos cinco operações que totalizaram quase US$ 900 milhões.

  • Silenciosos mineiros

Mas não foram apenas os megaescritórios paulistas que se beneficiaram do bom desempenho da economia brasileira e do aquecimento dos negócios. Bancas de menor porte e de outros estados também tiveram atuação decisiva nesse processo. O mineiro Azevedo Sette Advogados que o diga. No primeiro trimestre deste ano, a banca liderou o ranking da Thomson Financial, com quatro operações finalizadas, totalizando US$ 2,1 bilhões. O ranking da Thomson mostra que de janeiro a fevereiro de 2008 foram concluídas 204 operações de fusão e aquisição com um volume total de US$ 14 bilhões. No ano passado, foram 548 operações com investimentos de US$ 46 bilhões. Entre os negócios que o mineiro Azevedo Sette participou está a aquisição da JMendes pela Usiminas. “A operação da JMendes durou pouco mais de um ano e só os advogados diretamente ligados ao projeto tinham conhecimento do negócio”, revela o sócio da banca Fernando Sette. Ele explica que, em projetos como este, é comum usar um nome fictício para a evitar o vazamento de informações. “O nome do projeto era black rock (pedra negra)” conta. A banca participou ainda da aquisição da Minerminas pela MMX, um negócio estimado em mais de US$ 100 milhões. Atuou também na compra da Cotochés pela Perdigão por R$ 54 milhões. E na aquisição de Goiaves pela Sadia, estimada em cerca de R$ 60 milhões. Fernando Sette revela que seu escritório tem mais de 500 clientes na carteira, 130 advogados, outros 130 estagiários e mais cerca de 100 pessoas no staff. Além de Belo Horizonte, onde iniciou suas atividades há 40 anos, têm escritórios em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Campinas e em algumas cidades do interior de Minas Gerais. “Crescemos ordenadamente e, assim, sobrevivemos bem aos momentos ruins e aos bons”, destaca Sette. A banca planeja expandir os negócios para Goiânia e Vitória. “O Espírito Santo é o Estado que mais cresce no País e Goiânia é base para os estados centrais”, diz o advogado. Ele diz acreditar que este ano não terá o mesmo número de transações na área de fusões e aquisições do ano passado. “ Mas certamente serão maiores em valores”.

  • Fidelidade

Outro escritório de fora do eixo Rio-São Paulo que colheu os frutos do crescimento econômico do País é a Martinelli Advocacia Empresarial. Com sede em Joinville, a banca é a maior do Sul do País e tem cerca de 250 profissionais. Ao todo, são cerca de 300 clientes fixos e outros 2,5 mil clientes pontuais. E apesar de não ter o contencioso como ponto principal, o escritório tem mais de 18 mil processos. Apesar de ter apenas 11 anos, o crescimento tem sido contínuo e na faixa de 15% a 25% ao ano. O segredo? Um bom atendimento ao cliente, além do serviço de qualidade, revela o fundador João Martinelli. “Antes, na época das empresas familiares, havia uma fidelidade maior do cliente. Hoje, os executivos querem preços, qualidade e resultado. E temos de atender a essa nova necessidade”, comenta. Diante disso, o escritório criou uma espécie de Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC), onde um grupo de advogados visita o cliente para medir a temperatura dos serviços prestados. “Uma pesquisa revela que 75% dos clientes são os atuais e apenas 25% são novos, então temos uma preocupação grande em atender bem os nossos clientes”, comenta. “Temos um bom número de clientes que estão conosco desde a nossa fundação”, orgulha-se Martinelli. Para ele, mais do que conhecer as leis, é necessário ter sensibilidade empresarial para prestar um bom serviço. “É preciso verificar o reflexo que uma medida aparentemente jurídica dará ao negócio lá na frente”, diz. Além das áreas jurídicas, a banca tem departamentos de economia, especializado em captação de recursos (externo e do BNDES) e viabilidade econômica. “O advogado precisa conhecer o negócio do cliente”. Além das áreas de fusões e aquisições, Martinelli acredita que o setor de mercado de capitais e tributário também vai dominar os negócios dos escritórios em 2008 e 2009.

  • Recuperação

“Outras duas áreas que também devem ter um bom desempenho este ano são arbitragem e falência e recuperação de empresas”, diz o advogado Thomaz Felsberg, do escritório Felsberg Advogados, maior especialista brasileiro na nova Lei de Recuperação e Falência de Empresas

Felsberg participou de todos os grandes casos de recuperação desde a entrada em vigor da nova lei em julho de 2006. Entre eles, o da Parmalat, Varig (na modelagem inicial), VASP (do lado dos credores), Gradiente, BRA, TNT, Condupal e Eletro. “A nova lei de falências foi um passo importante, mas já está na hora de dar uma retocada, especialmente para reforçar o financiamento do devedor em recuperação, porque sem dinheiro é difícil se recuperar”, diz Felsberg.

Entre as dez maiores bancas do País, Felsberg e Associados nem sempre foi um escritório multifuncional. Entre 1970 e 1995, o escritório era uma espécie de boutique corporativa financeira. De lá pra cá, passou a atender todas as áreas do direito empresarial. E tem uma grande capacidade na área de contencioso, com mais de 8 mil ações. Hoje, são 300 colaboradores, sendo que 120 são advogados. Além de São Paulo, a banca está presente no Rio de Janeiro, Brasília e Campinas. Também já fincou bandeira em Washington e Xangai. “Pode ser que este ano abramos um escritório na Europa”, revela Felsberg. “Estamos animados com a expansão internacional, mas cautelosos.”

Reportagem publicada da revista GO WHERE Business, Edição nº 1 – Junho de 2008