Brasil renova cenário do setor siderúrgico


Brasil renova cenário do setor siderúrgico


Duas compras fechadas na semana passada estabeleceram um novo padrão no mundo dos negócios. Na última terça-feira, a siderúrgica brasileira Gerdau comprou a americana Chaparral por US$ 4,22 bilhões. A Gerdau pagou US$ 500 milhões a mais que outros negócios parecidos, segundo o analista do setor de aço Charles Bradford.

No dia seguinte à compra da Chaparral, a mineradora Rio Tinto apresentou uma oferta pela fabricante de alumínio canadense Alcan, de US$ 38 bilhões – US$ 10 bilhões a mais que a proposta anterior, feita por outra produtora de alumínio, a Alcoa. A exuberância irracional do mercado financeiro, como descreveu certa vez o ex-presidente do Fed (Banco Central americano), Alan Greenspan, chegou às mineradoras e siderúrgicas, num momento em que o mundo está ávido por matérias-primas.

As empresas brasileiras estão na linha da frente da nova onda de negócios, marcada por um ritmo nervoso de aquisições e preços cada vez mais altos das minas e fábricas. Criada em 1940, a companhia mineira Magnesita é um dos mais novos alvos dos investidores. A empresa é disputada pela siderúrgica européia Arcelor Mittal, pela austríaca RHI, pelo grupo japonês Hurosaki e pelo fundo de investimentos brasileiro Tarpon, favorito para fechar negócio. Em seis meses, o valor da Magnesita, calculado pelo preço das ações negociadas na Bolsa de Valores, mais do que dobrou.

Competição feroz

A Magnesita fabrica tijolos refratários usados em alto-fornos e tem mina de magnésio. Segundo o último balanço contábil, o valor de mercado da companhia em dezembro de 2006 era de R$ 1,1 bilhão Na semana passada, as ações já valiam R$ 2,34 bilhões.

A companhia da família Pentagna Guimarães – uma das mais poderosas de Minas Gerais, dona do banco BMG – será vendida por causa da competição feroz no setor. Sem recursos para acompanhar o ritmo dos concorrentes, os Pentagna Guimarães preferiram passar o negócio para a frente. “Eles não têm filosofia nem histórico de se endividar para crescer. Historicamente, a Magnesita sempre procurou crescer reinvestindo seus lucros. Só que agora isso não é mais suficiente”, disse uma pessoa ligada à empresa.

O leilão da Magnesita está longe de ser uma exceção. No início da década, a mineração e a siderurgia não eram considerados negócios atraentes, especialmente quando comparados a investimentos nas empresas de tecnologia. Mas com a ascensão da China e seu apetite voraz por matérias-primas a história mudou de figura. Há, nesse momento, uma corrida por empresas em Minas Gerais, onde está localizada uma das maiores províncias minerais do País.

Fernando Sette, membro de uma das maiores bancas de advogados do Brasil – a Azevedo Sette Advogados -, diz que há pelo menos sete negócios em curso envolvendo reservas minerais em exploração ou ainda virgens. “São negócios acima de US$ 1 bi, envolvendo minas que nem são muito grandes, de 200 milhões a 400 milhões de toneladas de minério de ferro”, diz. “Pelo menos três negócios devem sair este ano.”

São negócios parecidos com a recém-fechada compra da AVG Mineração, também de Minas Gerais, pela MMX, do empresário Eike Batista, em associação com a Anglo American, a quarta mineradora do mundo. O negócio saiu por US$ 274 milhões. Dias antes, a britânica London Mining havia anunciado um investimento no quadrilátero ferrífero de Minas Gerais – região que fica no centro do Estado e concentra reservas minerais.

A London Mining pagou US$ 130 milhões pela mina Serra Azul, com 260 milhões de toneladas de minério de ferro. O Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) refez as previsões de investimentos em mineração no País e concluiu que os aportes devem somar US$ 28 bilhões até 2011, um valor inédito na história do setor. Empresas como a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) têm planos ousados. Dona de uma mina gigantesca em Congonhas, ao sul de Belo Horizonte, a CSN vai investir US$ 1 52 bilhão para elevar a produção da mina de Casa de Pedra de 18 a 55 milhões de toneladas por ano.

A CSN anunciou no início do ano que vai separar os negócios de mineração e vender ações da mina da Casa de Pedra. Com o anúncio os investidores começaram a incluir na cotação da CSN o valor da Casa de Pedra. Na primeira cotação de 2007, a CSN valia R$ 17 38 bilhões na Bolsa. Na última sexta-feira, a cotação bateu em R$ 29,18 bilhões, uma valorização de 67,8% em seis meses e meio.

Vale

A Vale do Rio Doce está no pelotão de frente dessa corrida. Menos de um ano depois de comprar a mineradora canadense de níquel Inco por US$ 18 bilhões, a empresa prepara um novo bote. Hoje, ela vale US$ 101,2 bilhões no mercado. A Vale quer aproveitar tanto poder de fogo para crescer rápido.

A Vale tem estudos detalhados sobre cada uma das dez maiores mineradoras do mundo. Chegou a preparar uma oferta pela Alcan, mas seu ânimo esfriou depois da proposta matadora feita pela Rio Tinto. Para as outras empresas, porém, a Vale continua fazendo contas.

No novo mundo de exuberância irracional das empresas de matérias-primas quem não é caçador pode virar caça. A Rio Tinto pagou caro pela Alcan para se proteger de eventuais ofertas hostis. Derrotada na disputa, a Alcoa pode virar o novo alvo – inclusive por parte da Vale. A Alcoa vale US$ 39 bilhões no mercado – por enquanto.

Alcoa

Acionistas da fabricante de alumínio americana Alcoa estão pressionando para que a companhia se coloque à venda, provavelmente para a BHP Billiton ou a brasileira Vale do Rio Doce, numa transação que pode ultrapassar US$ 50 bilhões, segundo o jornal britânico “Times”. Uma alternativa ao acordo seria a venda de alguns de seus ativos, como suas operações de fabricação de painéis para aviões.

Segundo o jornal, fundos de hedge compraram ações da Alcoa nos últimos meses estimulados pela especulação crescente de que a empresa se tornará alvo de uma dessas duas corporações. A Alcoa respondeu à ameaça de ser comprada com uma oferta de US$ 28 bilhões pela canadense Alcan. Nesta semana, no entanto, a Rio Tinto ofereceu US$ 38 bilhões pela Alcan e a Alcoa saiu da disputa.

Alguns dos acionistas da Alcoa disseram ao “Times” que estão pedindo reuniões com executivos da empresa para obrigá-la a fazer um acordo. As ações da Alcoa vinham registrando desempenho abaixo da média do setor desde 2005, levando investidores a exigir uma mudança radical no grupo para tirar vantagem do atual boom das commodities.

(Notícia publicada no jornal O Estado de S. Paulo e reproduzida pelo jornal Diário do Comércio em 16 de julho de 2007)