Chave na mão


Fugir do aluguel é o sonho da maioria dos brasileiros, mas nem sempre é fácil conquistar a casa própria. A 7dias explica, com ajuda de especialistas, como dar o primeiro passo para concretizar este desejo

O leitor Valter Santos, de Itirapuã (SP), mandou uma carta para redação com dúvidas sobre como concretizar o sonho de comprar a casa própria: Como pedir empréstimo? Quais os documentos necessários? Vale a pena financiar? E não é só ele que fica perdido na hora de tentar conquistar um imóvel, afinal a burocracia é enorme. Alguns bancos exigem uma renda alta e diversos documentos, o que assusta quem está interessado em comprar. Mas, calma! Nada de desespero! Decidimos esclarecer as principais questões com a ajuda do consultor financeiro Cláudio Boriola e o advogado Eduardo Coluccin Cordeiro. Confira o que fazer para dar o primeiro passo.

  • Hora de financiar

Primeiro é necessário procurar o imóvel desejado e pesquisar se a construtora tem bons antecedentes. Depois é fundamental analisar a forma de pagamento. Uma das mais procuradas para este tipo de negócio é o financiamento. “Os bancos amenizaram a burocracia exigida para a pessoa ser considerada apta a participar deste tipo de programa”, garante o consultor Cláudio Boriola.

A Caixa Econômica Federal (CEF) e outros bancos realizam frequentemente este tipo de empréstimo ou a pessoa pode fazê-lo diretamente com as construtoras. “Na hora de financiar, é preciso escolher o tipo que deseja (de acordo com a renda) e seguir uma série de exigências fornecendo a ficha cadastral completa com documentos que comprovam dados sobre cônjuge, patrimônio, renda mensal, créditos, relação com o mercado, referências, despesas do grupo familiar e outros compromissos financeiros relevantes. A partir disso, a CEF fará uma pesquisa cadastral e análise de capacidade de pagamento”, explica o advogado Eduardo Coluccini Cordeiro.

Cordeiro diz ainda que o imóvel e o vendedor também são submetidos a uma avaliação. Finalmente, após escolhidas as condições de financiamento e obtida a documentação necessária (do comprador, do imóvel e do vendedor), a proposta de financiamento é preenchida e entregue à instituição. A operação é concluída se a documentação estiver correta e a avaliação aprovada. Toda pessoa que comprovar renda alta ou baixa estará habilitada a receber um financiamento imobiliário. “Da mesma maneira, estará capacitada toda pessoa que comprovar, por meio de documentos e certidões, que sua situação perante o sistema judiciário e fiscal está em ordem. Todas as instituições que fazem financiamento de imóveis têm regras e exigências próprias e impostas pelo Banco Central”, garante Boriola.

  • FGTS

O meio mais comum de se obter um imóvel é utilizando recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – FGTS. Este valor pode ser usado para aliviar a dívida ou quitar parte da prestação de financiamento na compra da casa própria. No entanto, isso só vale para quem trabalha com carteira assinada e não tem outro financiamento aberto na CEF, além de não ser dono de outro imóvel ou usar para compra de um terreno. Se você se encaixa neste perfil, procure uma agência da CEF e verifique o valor que tem depositado. Depois, é só seguir os tramites legais para a liberação do recurso. O valor do FGTS pode ser usado em qualquer financiamento para aquisição de casa própria.

  • Carta de Crédito

Outra maneira de efetuar a compra do imóvel é utilizando uma carta de crédito que pode ser concedida por qualquer banco. Na CEF, o documento é válido por 30 dias, prorrogáveis por mais 30. “Neste prazo, é preciso decidir-se pelo imóvel ou pelo início da construção da casa própria. Assim que encontrar o imóvel ideal, o comprador assina um compromisso de compra e venda com o vendedor e leva à instituição financeira o contrato particular e a documentação do imóvel e do vendedor.

Vale lembrar que, no momento da compra do imóvel, cada construtora tem o tem o seu sistema financeiro. E cada um abrange juros e prazos diferenciados. Todos, porém, são declarados em contrato que irá definir qual a prestação mensal que irá abatendo aos poucos a dívida. Conheça como funciona cada um:

SAC: as prestações iniciais são mais altas, mas o valor do saldo devedor diminui a cada mês.

Sacre: utilizado pela CEF e por poucos bancos privados, suas prestações iniciais são mais altas, mas caem à medida que o tempo passa.

Tabela Price: o valor da prestação vai aumentando com o tempo. No final, há um acúmulo de valor chamado de resíduo. Ou seja, são juros acumulados ao longo do período do financiamento. Hoje, os sistemas SAC e Sacre são mais utilizados.

  • Tudo em ordem

A documentação é a garantia de se concluir o negocio. Portanto, é preciso estar com tudo em dia. Confira a lista básica de exigências:

Documentação para o crédito: Certidão de nascimento ou casamento; carteira de indentidade; CPF; três últimos contracheques (se for assalariado); fotocópia da carteira de trabalho (se for assalariado), das seguintes páginas: folha de rosto, da página relativa ao contrato de trabalho, da opção pelo FGTS e das alterações salariais; última declaração do Imposto de Renda (assalariados e profissionais liberais) e/ou declaração do contador (profissionais liberais); Certidão forense estadual e federal (comprovam se há processos judiciais e criminais contra a pessoa).

  • Escolha certa

Além do financiamento, há outras opções para comprar um imóvel. Entre elas, o sistema por cooperativa e consórcio. Conheça cada uma:

Cooperativa – São responsáveis pela execução da obra e também cuidam do financiamento. Quem opta por fazer este tipo de compra, paga o imóvel gradualmente durante a construção. No final, a casa sai a preço de custo. Porém, este sistema apresenta uma desvantagem: a possível demora na entrega do empreendimento.

Consórcio – Este sistema vem ganhando destaque e entre seus principais atrativos está a não incidência de juros altos cobrados nos financiamentos bancários. Mas, é preciso pensar bem antes de decidir, pois haverá o risco de ser o ultimo a obter a carta de crédito. A análise cadastral é feita apenas depois da contemplação e pode não atender aos requisitos exigidos para a liberação do crédito. Além da comprovação de renda, as empresas avaliam o histórico da pessoa. Portanto, é preciso ficar atenta para não entrar em uma situação sem volta ou sentir-se desamparada, porque não conseguiu adquirir a sua casa.

  • Aluguel X Casa Própria

Pedir dinheiro emprestado pode comprometer o orçamento. Quem não tem verba para investir num imóvel e pagar à vista, pode esperar mais alguns anos para, pelo menos, financiar um saldo menor. Há quem aposte que valha a pena pagar aluguel por mais um tempo a entrar num financiamento. Parece estranho? Mas não é. De acordo com Cláudio Boriola, aluguel não é dinheiro jogado fora. Essa prestação costuma ser menor que uma de financiamento é composta por dois valores: amortização do total financiado + juros (em geral 1% ao mês) sobre o saldo devedor. Portanto, o aluguel (em média 0,7% ao mês sobre o valor do imóvel) é menor que o valor pago em juros num financiamento imobiliário. Por isso, comece a poupar e tente financiar o menor calor possível. Assim, você evita pagar juros e ainda conquista a tão sonhada casa própria.

Reportagem publicada na revista 7 dias com Você da editora Escala, 9 de maio de 2007