Escritórios fazem ofensiva para atrair estrangeiros


Escritórios fazem ofensiva para atrair estrangeiros


Matéria publicada no Jornal Brasil Econômico, caderno Justiça, em 15/09/10

De Nova York a Dubai, eventos e palestras aumentam exposição de bancas e tentam abrir as portas do país para investidores

Eles não são gigantes, mas têm uma ambição em comum para ganhar espaço: querem ser o escritório predileto de investidores estrangeiros que chegam ao país para montar ou adquirir empresas. E a estratégia para atraí-los é a exposição. Organizar eventos,
palestras e road shows no Brasil e no exterior para esse público deixou de ser algo pontual. Tornou-se parte da rotina das bancas e do trabalho de advogados cada vez mais especializados. Atento ao interesse de investidores do mundo árabe em montar subsidiárias no país — em especial em setores ligados ao agronegócio —, o Velloza,
Girotto e Lindenbojm vem reforçando o contato com fundos e agências governamentais que fomentam investimentos da região, afirma Cesar Amendolara,sócio do escritório. “O investimento direto árabe no Brasil ainda é modesto e muito recente. Está sendo levado à frente pelas novas gerações, culturalmente menos limitadas ao seu próprio mundo por terem estudado em países de primeiro mundo”, aponta. Os fundos soberanos árabes vêm ampliando sua participação no mercado de capitais nos últimos anos. Demonstram apetite por títulos privados de dívida e ações de empresas brasileiras. No entanto, as dificuldades em comprar empresas ou ter operações próprias no país são muito maiores. “O funcionamento de nossas regras tributárias é uma grande barreira para eles. Nos países árabes, as receitas do petróleo pagam a fatura. Não há impostos na forma de cobrança que conhecemos”, compara Amendolara. Para abrir caminhos para investimentos, o advogado participou de seminários em Dubai e Qatar neste ano. O escritório deve organizar um evento desse
tipo até o final do ano. Entretanto, para atrair e manter clientes estrangeiros que investem no Brasil é necessário muito mais do que desvendar a complexa burocracia. É preciso dar a eles a sensação de conforto, o que significa conhecer profundamente
seus hábitos, cultura e intenções no Brasil, acredita Rafael Villac, do Peixoto e Cury.
O escritório mantém parceria com uma butique especializada em fusões em Nova York. Nela, advogados passam entre 1 ano e 1 ano e meio para aprender na prática como funcionam as normas do direito americano. “Um diferencial é prestar a prova da OAB local e voltar ao Brasil com essa habilitação, o que tem acontecido com alguns de nossos profissionais”, diz Villac. A maior parte dos clientes do escritório, que existe desde 1948, é composta por empresas estrangeiras. Uma das mais antigas é a fabricante de cosméticos Avon.

Mais do que desvendar a complexa teia burocrática brasileira para quem chega, profissionais procuram conhecer hábitos, cultura e intenções desse público

Bolsa abre espaços

Um mercado de capitais em plena expansão é outro atrativo para investidores estrangeiros. E, com ele, surgem novas oportunidades para que as bancas exponham seu trabalho. Hoje, por exemplo, o Rayes, Fagundes e Oliveira Ramos promove seminário em Nova York sobre o tema. “A principal intenção desse tipo de encontro não é prospectar novos clientes, mas manter aqueles que já temos”,diz João Paulo Fagundes, um dos sócios que estarão no seminário. O escritório especializou-se em auxiliar empresas após a abertura de capital. Ajuda a manter em dia as normas exigidas pelo regulador — a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) — e atua como assessor legal de executivos de empresas em processos administrativos envolvendo investidores.

A intenção de conhecer adequadamente as práticas de regulação e autorregulação da bolsa brasileira também tem movimentado os sócios do Peixoto e Cury. “Fizemos palestras sobre governança nos Estados Unidos em junho e nos preparamos para outra rodada de debates sobre o assunto em outubro”, projeta Rafael Villac. ■

Azevedo Sette quer globalizar empresa menor

Escritório especializou-se em intermediar fusões e aquisições de até R$ 500 milhões

A busca por investidores estrangeiros também acontece de forma acelerada no Azevedo Sette. Prova disso é que o escritório já realizou diversos road shows nos Estados Unidos neste ano. Esteve em Dallas, Houston e Miami e pretende voltar ao país ainda em 2010, além de fazer eventos similares na Europa. Mas outro movimento desperta tanto ou mais interesse no momento: o processo de internacionalização
de pequenas e médias empresas. Essas duas frentes de atuação motivaram a volta de Luiz Azevedo Sette à banca, há pouco mais de um mês. O advogado será sócio sênior,
depois de uma passagem de 12 anos pelos Estados Unidos. Nesse período foi um dos comandantes do departamento jurídico da gigante Microsoft. Um time formado por cerca de 170 advogados espalhados pelo mundo. “Foi uma decisão difícil”, diz. “Mas era o momento de voltar, pois o escritório precisava de um sócio para tocar esses projetos.” Sette acredita que chegou a hora de grupos de menor porte tomarem o mesmo rumo que gigantes como Vale, Petrobras e Gerdau e ampliarem suas fronteiras em busca de novos clientes. “Acontecerá naturalmente: empresas que já participam de negócios pelo lado de fusões e aquisições vão ter maior acesso ao mercado de capitais e crescer para fora do país.” E é nesse ponto que o escritório espera se destacar. Afinal, está entre os líderes de atuação quando o assunto são negócios de até R$500 mil. “Esse valor concentra a maior parte das operações do nosso mercado”, diz Sette. Um dos segmentos que deve puxar a fila dessa consolidação é o de Tecnologia da Informação, fragmentado entre pequenas empresas, e no qual a passagem do advogado pela Microsoft certamente ajudará. ■ L.F .

Luiz Azevedo Sette retorna à casa após ter passado 12 anos no departamento jurídico da Microsoft nos EUA