Mercado de capitais promete segundo semestre mais aquecido


Mercado de capitais promete segundo semestre mais aquecido


Leandro Modé

Segundo especialistas, aberturas de capital começam a se delinear e novas captações estão a caminho

A informação de que o Banco Santander estuda fazer uma bilionária oferta de ações no Brasil reforçou a percepção de que o segundo semestre será mais aquecido para o mercado de capitais do País. A expectativa é de uma retomada lenta, mas consistente, das aberturas de capitais (IPOs) e das emissões secundárias de ações. Especificamente para o mercado de dívidas – debêntures e notas promissórias, por exemplo -, a perspectiva é ainda mais positiva.

O pano de fundo para esse cenário melhor é a condição brasileira privilegiada em relação ao resto do mundo hoje. “O Brasil é, de novo, a bola da vez”, afirmou o vice-presidente do Banco Itaú BBA, Jean-Marc Etlin. Segundo ele, há três razões principais para isso.

A primeira delas é a posição do País como produtor de commodities. A expressiva demanda chinesa por produtos como soja e minério de ferro, lembra Etlin, impacta positivamente o Brasil. A segunda razão é o mercado interno forte. “As medidas do governo foram importantes para que a demanda aqui não despencasse”, observou.

Por fim, o executivo cita a tendência de queda para a taxa básica de juros (Selic), que deve levar os investidores do País a buscar opções mais arriscadas para tentar obter uma rentabilidade maior que a da renda fixa. “Entre 8% e 9% dos recursos dos brasileiros estão aplicados em ações, ante uma média mundial que vai de 30% a 40%”, comparou Etlin.

O sócio-coordenador da central de IPOs do Brasil da Consultoria Ernst & Young, Paulo Sergio Dortas, acredita que só agora o Brasil conseguirá de fato “sentir o gostinho” de ser considerado grau de investimento – selo de qualidade que recebeu das principais agências de risco em maio do ano passado, pouco antes, portanto, de a crise se aprofundar. “Fundos parrudos que não podiam aplicar aqui agora podem”, disse.

Segundo a Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), houve apenas quatro operações de renda variável no Brasil no primeiro semestre. A principal delas foi o IPO da Visanet, que levantou R$ 8,4 bilhões e é o maior do mundo em 2009 até o momento.

O negócio só deve ser superado pelo IPO da China State Construction Engineering, que deve captar quase US$ 6 bilhões (o equivalente R$ 11,4 bilhões). A empresa é a maior construtora de casas do país.

O advogado Ordélio Sette, do escritório Azevedo Sette, conta que está trabalhando em seis IPOs. Quatro já estavam em preparação quando a crise global se aprofundou. “Aí parou tudo”, disse. “Com a melhora recente da Bolsa e o IPO da Visanet, o mercado voltou a agitar.”

Segundo Sette, duas dessas operações certamente serão executadas ao longo do segundo semestre. As outras duas estão em processo de renegociação com os bancos. Há, ainda, outras duas operações que entraram há pouco no escritório. Mas ambas, segundo ele, estão em fase inicial. “Ainda estamos preparando as empresas.”

Um banqueiro de investimentos confirma que o mercado de IPOs voltou a se agitar. “Sim, está aberto, mas muito mais seletivo”, afirmou. “É preciso ter consistência, porte e um bom histórico”, completou. Por isso, ele acredita que, apesar da melhora, não se deve esperar um boom como o de 2007, quando 64 empresas abriram o capital no Brasil.

“Até o fim do ano, o número de operações não vai superar os dedos de uma mão”, disse. Sette mostra-se mais otimista. “Acredito que, ainda nesse trimestre, já veremos três ou quatro operações”, afirmou.

  • Ofertas Secundárias

Em relação às ofertas secundárias, a expectativa é de mais operações. A BRF Brasil Foods (novo nome da Perdigão) encerrou ontem uma captação de R$ 5,3 bilhões (ver matéria abaixo). A Natura está com uma oferta de ações aberta, na qual pretende obter quase R$ 1,6 bilhão. O período de reserva para os papéis vai de 28 a 29 de julho.

Na semana passada, a Hypermarcas (dona de marcas como Assolan, Etti e Monange) encerrou uma oferta mista (primária e secundária) na qual captou quase R$ 800 milhões.

Ontem, o Banco Santander divulgou um comunicado no qual afirma que “está analisando a viabilidade e a conveniência de realização de uma oferta pública primária de ações de sua emissão de participação minoritária”. Segundo informações do jornal Valor Econômico, a oferta poderia levantar entre R$ 4 bilhões e R$ 6 bilhões. Procurado, o banco não quis se pronunciar.

No comunicado, o Santander observou, também, que “ainda não houve qualquer decisão quanto à realização da operação que dependerá, entre outros fatores, das condições do mercado”. Segundo um analista de mercado, a intenção do banco com a possível operação seria captar no Brasil dinheiro mais barato do que no exterior.

Para o professor de finanças do Insper (ex-Ibmec São Paulo) Alexandre Chaia, as razões para uma eventual emissão do Santander no Brasil passam pelo aumento da capitalização da filial brasileira.

Matéria publicada no jornal O Estado de S. Paulo, caderno Economia