Nascidos fora do eixo Rio–São Paulo


Nascidos fora do eixo Rio–São Paulo


Escritórios de advocacia começaram longe dos grandes centros, mas foram expandindo para atender os clientes e viraram potências nacionais

Marcela Matos

Os quatro maiores escritórios de advocacia do Brasil nascidos fora do eixo Rio-São Paulo já se tornaram escritórios nacionais, mas com um diferencial: são fortes, como nenhum outro, também nas regiões em que se estabeleceram inicialmente. Motivados pelos próprios clientes, Martorelli e Gouveia Advogados, Trigueiro Fontes Advogados, ambos do Nordeste, Azevedo Sette, fundado em Minas, e Martinelli, de Joinville (SC), abriram novas sedes por todo país, a partir dos anos 90, adotaram o conceito full service e um perfil padronizado de atendimento. E o curioso, é que o processo de expansão, para todos eles, foi motivado pelos próprios clientes. “As empresas querem contar com um único escritórios em todo país”, disse Fernando Azevedo Sette. Preços competitivos, oriundos de mercados regionais, também se tornaram um diferencial, aliado à qualidade.

“A proposta era fazer com que o cliente sentisse que estava no mesmo escritório em qualquer lugar do país, até os móveis são iguais”, disse Roberto Trigueiro. E deu certo, há um ano Trigueiro Fontes chegou a São Paulo. Já o conceito full service foi o que determinou o sucesso, na visão de João Martorelli, do escritório Martorelli e Gouveia, de Recife, que segue a mesma trajetória vertiginosa de crescimento.

Hoje com 70 advogados, o escritório fundado por João Humberto Martorelli viu o mercado de advocacia passar por uma revolução a partir dos anos 90. “Em todo o país, as privatizações, a estabilidade econômica e a proliferação do acesso à Justiça mudaram o cenário, e no Nordeste, os investimentos em saneamento, energia e telefonia deram novo força à economia”, analisa o advogado. Na época, existiam no Nordeste muitos escritórios, mas sem estrutura para atender as empresas maiores.

Em 1998, surgiu a oportunidade de acelerar esse processo, e o Martorelli começou a ensaiar uma parceria com Vicente Gouveia Advogados, com uma estrutura pronta, mais advogados e décadas de experiência. A fusão veio em 2004. Atualmente, o Martorelli e Gouveia Advogados está presente, em Salvador, João Pessoa, Brasília, Goiânia e São Paulo, onde se instalou para atender a necessidade de um cliente, além de Recife. “Fazemos isso para evitar a indicação de um parceiro, o que às vezes não funciona”, disse João Humberto Martorelli.

Roberto Trigueiro também compartilha deste pensamento e acredita que o sucesso do Trigueiro Fontes Advogados está justamente neste ponto, o cliente é atendido em todo Brasil pelo mesmo escritório. Mas foi quase por acaso que o Trigueiro Fontes Advogados pôde hoje ser considerado um escritório nascido no Nordeste. Roberto Trigueiro já integrou o Pinheiro Neto e trabalha em Brasília, quando, por recomendação médica, teve que deixar a cidade. Estava com hipertensão e decidiu voltar para Natal, no Rio Grande do Norte. Logo achou que a cidade era pequena para seus planos e abriu um segundo escritório em Recife. “Em dois anos dupliquei de tamanho e comecei a atender o Nordeste como um todo”, disse. Logo depois, vieram Salvador, Fortaleza e faltava Brasília, na visão do fundador que tinha idéia de manter o escritório regional.

Por atender apenas empresas de grande porte ou multinacionais, não demorou muito para precisar seguir para a região sul, Curitiba em 2001 e Porto Alegre em 2005. Trigueiro Fontes Advogados já se consolidara como ótima opção de escritório de advocacia fora do eixo Rio-São Paulo até que um cliente de grande porte, claro, os selecionou como escritório padrão para todo o Brasil. O novo escritório em São Paulo começou a funcionar há um ano e a tendência é crescer rapidamente. “Em dois anos devemos duplicar o trabalho em São Paulo”, explica Roberto Trigueiro.

Para Fernando Azevedo Sette, ter surgido em Minas Gerais, não faz qualquer diferença para o escritório hoje. “Muita gente nem sabe disso.” Em sua visão, o processo de expansão é orientado sempre para o atendimento das necessidades dos clientes, tanto assim que o Azevedo Sette está em São Paulo há 15 anos e antes disso já atendia clientes na cidade. Hoje com cerca de 100 advogados ao todo, ainda mantém a matriz em Belo horizonte, mas está presente em Brasília, Rio de janeiro e São Paulo, além de Paulínia (SP) e Governador Valadares e Itabira (MG).

Desde a abertura do escritório, o Martinelli Advocacia Empresarial se orientou pela demanda do mercado. “Começamos em Joinville por necessidades de estar próximo do cliente e não para conquistar outros”, disse João Joaquim Martinelli, fundador do escritório que hoje tem unidades em Brasília, Belo Horizonte, Rio, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Maringá, Florianópolis e Caxias do Sul.

São cerca de 200 profissionais, aliás, a grande dificuldade está na formação de mão-de-obra para os escritórios de porte fora dos grandes centros. “Eu não tenho de quem tirar profissionais já preparados, temos que investir muito em treinamento”, explica Martinelli.

O que levou o Martinelli Advocacia Empresarial a crescer tanto assim em 10 anos foi um plano de metas traçado por João Joaquim Martinelli. O objetivo era estar entre os maiores do Brasil ao fim de uma década. Deu certo, para os próximos cinco anos, o advogado quer se transformar em um escritório de soluções. Expansão geográfica, por hora, não está nos planos.

Notícia publicada na revista Illustre, Janeiro/Fevereiro de 2007