País caminha para recorde em fusões


País caminha para recorde em fusões


As companhias brasileiras estão apostando no crescimento econômico do País, apesar da crise no sistema de crédito imobiliário (subprime), que abalou a confiança dos mercados no desempenho da economia americana. No País, os planos de expansão estão a pleno vapor, como mostra o acelerado movimento de fusões e aquisições, que está na contramão do americano, onde há uma desaceleração das operações. Segundo Luís Motta, sócio da consultoria KPMG, as companhias brasileiras puxaram o movimento na América Latina, e a tendência é que o movimento no primeiro trimestre deste ano seja recorde. No último trimestre de 2007, foram registradas 170 operações: 94 realizadas entre companhias brasileiras; 16 de companhias brasileiras comprando empresas estrangeiras no exterior e sete brasileiras comprando estrangeiras no Brasil.

Responsáveis por toda a orientação sobre as questões legais em um processo de reformulação societária de uma empresa, os escritórios de advocacia tiveram um ano bastante movimentado em 2007, imposto pelo aumento de IPOs (sigla em inglês para ofertas públicas iniciais de ações) e fusões e aquisições. Este ano, as bancas já puderam sentir uma sensível diminuição na procura por abertura de capital, mas essa perda está sendo compensada pela área de fusões e aquisições. Para Fernando Azevedo Sette, sócio do escritório Azevedo Sette Advogados, o movimento está aquecido em setores como mineração e siderurgia.

  • Brasileiras apostam no crescimento

Operações de fusões e aquisições devem superam 170 neste primeiro trimestre
Lucia Rebouças
São Paulo

As companhias brasileiras estão apostando no crescimento econômico do País, apesar da crise no sistema de crédito imobiliário (subprime), que abalou a confiança dos mercados no desempenho da economia americana. No Brasil, os planos de expansão estão a pleno vapor, como mostra o acelerado movimento de fusões e aquisições, que está na contramão do americano, onde há uma desaceleração das operações.

Segundo Luís Motta, sócio da consultoria KPMG, as companhias brasileiras têm sido o motor principal do aumento das fusões e aquisições não só no Brasil. “Puxaram o movimento na América Latina e até nos EUA”, afirma. De acordo com dados preliminares da pesquisa que é feita trimestralmente pela KPMG, a tendência é que o movimento no primeiro trimestre deste ano supere o recorde do último trimestre de 2007, quando foram registradas 170 operações: 94 entre companhias brasileiras; 16 de companhias brasileiras comprando empresas estrangeiras no exterior e sete brasileiras comprando estrangeiras no Brasil.

Há vários fatores favorecendo o movimento de fusões para as companhias brasileiras. Um deles é a desvalorização do dólar, que torna atraentes ir às compras no parque empresarial americano, de acordo com Motta. “A vantagem para uma empresa brasileira em ter um subsidiária em um país desenvolvido é diversificar seu perfil de risco. Além disso, a presença em um país de risco menor permite a captação de recursos mais baratos.”

No mercado interno, o cenário está propício para aquisições porque as companhias estão capitalizadas para levar adiante projetos de expansão. “Com a farta captação de recursos via oferta públicas de ações (propiciada pela liquidez internacional que irrigou os mercado emergentes nos últimos dois anos) e os lucros recordes que vêm obtendo, as empresas estão capitalizadas para consolidar-se em seus setores de atuação e para ganhar escala”.

As notícias sobre novas operações têm sido quase que diárias. Ontem, a Lojas Renner informou que está negociando a compra da Lojas Leader, presente no Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Pernambuco, Sergipe e Alagoas. Na última semana, a Saraiva Livreiros Editores comunicou a compra da rival Siciliano, por R$ 60,3 milhões.

O Bradesco, maior banco privado do País, comprou a corretora Ágora por R$ 830 milhões. O pagamento será feito com emissão de ações do banco de investimento do Bradesco (BBI) e a operação ainda depende de aprovação do Banco Central e de que diligente que deve ser concluída ainda neste semestre.

  • Consolidação na carne

O grupo Marfrig, um dos maiores produtores de carne bovina e subprodutos na América Latina, anunciou a aquisição de 100% do controle do frigorífico Mabella, aumentando o portfólio de produtos industrializados e ampliando a presença do grupo no setor de proteína animal.

A J&F Participações, controladora do grupo JBS-Friboi no Brasil, não ficou atrás. Anunciou a assinatura de um contrato para aquisição da norte-americana Swift Foods, uma operação de US$ 1,4 bilhão, que deve ser concluída até julho. A integração da JBS e da Swift criará a maior empresa do mundo no setor de alimentos de proteína de origem bovina e da maior empresa brasileira na área alimentícia.

No dia 2 de fevereiro, a Usiminas anunciou a compra da integralidade das quotas representativas do capital social das empresas Mineração J. Mendes., Somisa (Siderúrgica Oeste de Minas e Global Mineração). Segundo Fernando Azevedo Sette, sócio do escritório Azevedo Sette Advogados, o movimento de fusões está aquecido em setores como mineração e siderurgia. “As companhias brasileiras estão acreditando no crescimento da economia e também do mercado externo. Quem exporta, por exemplo, aposta na força das economias da China e ainda da Índia e do Oriente Médio, como os Emirados Árabes.” O Advogado diz que há muito espaço para operações nas áreas de alimentos e banco. Vê também uma movimentação na área de seguros neste ano. O escritório assessorou a negociação com a Usiminas em todas as etapas da transação, prestando consultoria desde a due diligence à elaboração dos contratos e fechamento do negócio.

Depois de realizar quatro aquisições de empresas de software no período de apenas três anos, que envolveram investimentos de R$ 250 milhões, a Totvs, maior fornecedora brasileira de software de gestão empresarial para pequenas e médias empresas, informou que voltará às compras. A empresa dispõe de cerca de R$ 100 milhões em caixa para aquisições. José Rogério Luiz, vice-presidente de gestão e de relações com investidores, afirma que o segmento onde atua tem um alto potencial de consolidação. “A Totvs tem condições de ampliar sua liderança nesse processo”, afirma o executivo.

  • Novas negociações compensam queda de IPOs
    Juliana Elias
    São Paulo

Responsáveis por toda a orientação sobre as questões legais em um processo de reformulação societária de uma empresa, os escritórios de advocacia tiveram um ano bastante movimentado em 2007. O aumento de IPOs, fusões e aquisições lhes impôs um ritmo de crescimento na faixa dos 30% no ano passado.

Em 2008 – quando logo em janeiro bolsas do mundo inteiro despencaram por conta de novas notícias sobre a crise do subprime americano -, as bancas já puderam sentir uma sensível diminuição na procura por abertura de capital. Mas a área de fusões e aquisições apontou o ritmo contrário.

Para José Luiz Freire, sócio do TozziniFreire Advogados, é justamente o grande movimento de compras que deve compensar a diminuição que o escritório já sente na área de IPOs. “Geralmente, quando uma empresa vai abrir o capital, primeiro ela vende uma parte da companhia para um private equity, para se valorizar antes de ir para o IPO. Essa etapa estava sendo pulada no ano passado”, conta Freire.

Com as mudanças no mercado, não dá mais para a empresa ir direto para a bolsa. As coisas devem voltar à situação normal, e o maior número de negociações com os private equities tem potencial para substituir com vantagem a desaceleração dos IPOs para nós”, continua.

Mauro Leschziner, sócio do Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados, nota a mesma tendência entre os clientes a que atende, depois do “boom” de IPOs que testemunhou no ano passado. “Hoje estamos vendo muita empresa que está às portas de abrir o capital receber propostas de um private equity ou um parceiro financeiro, para ir para o IPO com uma estrutura diferente, mais forte”, conta o advogado.

Para Leschziner, o contra-fluxo entre IPOs e fusões e aquisições se da porque a exposição à bolsa de valores depende do apetite do investidor especulativo, natureza diferente dos processos de fusões e aquisições. “No caso dos M&As (em inglês, mergers and acquisitions –fusões e aquisições), a empresa tem um investidor estratégico, é um player do mercado, está em determinada área e tem interesse em crescer. Não depende das chamadas janelas de oportunidades, que pautam o investidor especulativo”, explica.

Segundo o sócio, se a crise americana realmente inibiu o mercado, o Machado Meyer ainda não sentiu a diferença. “Minha agenda para todo o primeiro semestre já está completamente tomada. E os Estados Unidos continuam sendo nosso foco principal. Mais de 70% das negociações que acompanhamos ainda partem de lá”, comenta.

No escritório Pinheiro Neto, as rotas contrárias de fusões e aquisições e IPOs também destoam do desempenho registrado no ao passado, quando o faturamento do grupo subiu entre 25% e 30% em relação a 2006.

Neste início de 2008, os IPOs não chegam nem a 20% do que movimentaram nos dois primeiros meses do ano passado, calcula o sócio Alexandre Bertoldi. Por outro lado, o advogado acredita que área de M&A tem fôlego para manter um avanço na mesma faixa de até 30% dentro do escritório. “Os IPOs estão sofrendo. Vai ser difícil continuar como em 2007, que foi um ano sem precedentes, o melhor ano na história do escritório”, conta Bertoldi. “Por outro lado, esses dois primeiros meses mostram um ano bom para os M&A. Janeiro e fevereiro tiveram um movimento recorde para nós.

Reportagem publicada na Gazeta Mercantil, 12 de março de 2008