Reaberta a temporada de aquisições


Reaberta a temporada de aquisições


A temporada de fusões e aquisições no setor de seguros foi retomada recentemente. No primeiro semestre, foram oito transações, contra dez em todo o ano de 2004, segundo levantamento da KPMG, que fez um estudo sobre esses negócios abrangendo o período desde 1994. Em 11 anos, foram 127 operações na área de seguros.

Um dos exemplos mais recentes foi a associação entre a Real Seguros e a Tokio Marine & Nichido Fire Insurance, concluída em abril. Também o segmento de seguros da Nossa Caixa passou a ser gerenciado pela espanhola Mapfre, por meio da sua subsidiária brasileira. São alguns exemplos que sinalizam uma tendência, segundo as fontes do mercado.

José Rubens Alonso, sócio da KPMG, avalia o interesse das seguradoras pelas áreas de seguros dos bancos como uma reformulação de estratégia dos grandes grupos financeiros. “Esses bancos repensaram sua operação de seguros, cedendo seu canal de distribuição e deixando toda a parte operacional e de análise para as seguradoras, tendência que pode se multiplicar”.

Rogério Villa, sócio da divisão de auditoria Terco Grant Thornton, também acredita nessas associações para melhor diluir os riscos. “Um leque maior de segmentos permite ser mais arrojado na administração de riscos operacionais”, avalia.

Os bancos podem fazer joint venture com as seguradoras independentes, que passariam a usar o canal de distribuição das instituições financeiras. “Nesse processo é importante ressaltar um fator de atratividade do capital estrangeiro: o alinhamento do arcabouço regulatório com a legislação internacional”, observa Alonso. A Superintendência de Seguros Privados (Susep), segundo o sócio da KPMG, vem adotando padrões recomendados pelos organismos internacionais.

“O mercado brasileiro passa a ser mais atrativo para esses grupos internacionais, que vêem no Brasil potencial de crescimento, com a abertura do resseguro, a estabilidade econômica e a possibilidade de introduzir produtos inovadores de outros mercados”, pondera Alonso.

Juliano Battella Gotlib, sócio do escritório Azevedo Sette Advogados, prevê aumento das fusões e aquisições em importantes outras áreas da economia brasileira. Segundo ele, o movimento só não está mais forte em função da crise política, que “assustou” um pouco os estrangeiros. “À medida que se percebeu que a crise não afetou o desempenho da economia, os projetos foram retomados”, avalia.

Um dos grupos que avançam seu projeto de conquista do mercado brasileiro é a Mapfre Seguros do Brasil. Antonio Cássio dos Santos, diretor-presidente da empresa, afirma que a aquisição de 51% do capital social da Nossa Caixa Seguros e Previdência, pelo valor de R$ 225,8 milhões, em maio deste ano, faz parte da estratégia de tornar-se um grupo segurador de abrangência nacional. “Com a associação, complementamos a linha de atuação, que terá, além dos planos coletivos, os individuais também, com portfólio mais amplo de produtos”, afirma.

Santos não descarta a oportunidade de novos negócios. Segundo ele, o Brasil representa 5% dos negócios da seguradora em termos mundiais, sendo o principal mercado na América Latina, seguido do México e Argentina. “Por ser um grupo ibero-americano, o Brasil se torna preponderante”, acrescenta.

As receitas totais da Mapfre atingiram R$ 863 milhões no primeiro semestre deste ano, com crescimento de 20,4% em relação ao mesmo período de 2004. O lucro, antes dos impostos e participações, foi de R$ 29 milhões, uma alta de 31,8%. No ano passado, o faturamento no geral totalizou R$ 1,4 bilhão, com uma elevação de 26,4% sobre 2003, e o lucro líquido atingiu R$ 31,1 milhões. Santos prevê, sobre os resultados de 2004, crescimento de 25% no faturamento e 28% no lucro neste ano.

A Willis Corretora de Seguros, filial brasileira da terceira maior corretora mundial, também pretende ampliar a atuação no mercado, criando produtos específicos e segmentados, segundo Eugênio Paschoal Antunes, presidente da Willis no Brasil. Ele não descarta a possibilidade de realizar alguma aquisição ou fusão, mas acha o mercado muito pulverizado. Por isso, segundo ele, há dois anos a empresa partiu para uma diversificação de seu portfólio de produtos. De sua especialidade, os seguros contra riscos industriais, começou a operar com riscos financeiros, de logística e transporte, construção e energia.

A empresa também ingressou em novas áreas, como a de seguro de afinidade, implantada nos canais de distribuição de empresas e instituições financeiras há três anos, e a de benefícios (saúde, vida e odontológico). A grande diferença, segundo Antunes, é que há cinco anos se vendiam todos esses produtos num pacote só. “A segmentação ajuda a atender melhor à necessidade do mercado. Com a estrutura mais ágil fica mais fácil a criação de produtos e a incorporação das novidades do mercado internacional”, afirma Antunes.

Valor Econômico em 28/09/05