Siderurgia Chinesa investe contra dependência de mineradoras


Siderurgia Chinesa investe contra dependência de mineradoras


Siderúrgicas chinesas estão buscando comprar participações em mineradoras na tentativa de reduzir sua dependência da importação de minério de ferro, mercado dominado por Vale, Rio Tinto e BHP Billiton. O poder de barganha das companhias da China com as mineradoras pode aumentar à medida que o país depender menos da importação da commodity. Neste momento de definição do patamar de aumento para os preços de referência
(benchmark) do minério, o cenário é favorável ao setor minerador pois, diante da demanda pela commodity, a diferença entre os valores das negociações à vista (spot) e dos preços de referência chega a superar 100%.

Os valores de referência do minério de ferro acumulam alta de 165% nos últimos cinco anos. Em 2005, o aumento foi de 71,5%, em 2006, de 19%, em 2007, de 9,5% e, em 2008, de 65%. No ano passado, porém, houve redução de 28,2% e a China não aceitou os contratos anuais. Recentemente, bancos e corretoras internacionais elevaram suas projeções para os aumentos do preço de referência do minério de ferro. Anteriormente, a alta estimada ficava no patamar de 20% a 30%. No momento, já há quem espere aumento de até 70%.

Recentemente, a Wuhan Iron & Steel, terceira maior siderúrgica da China, comprou 60% em mina de minério de ferro na Libéria por US$ 68,46 milhões do Fundo de Desenvolvimento China-África, conforme informou a agência Dow Jones. A Wuhan, que depende das importações para 85% de suas necessidades de minério, tem se expandido nos últimos anos e já anunciou outros acordos para comprar fatias em mineradoras, entre elas a brasileira MMX
Mineração e Metálicos e a australiana Centrex Metals, como parte de sua estratégia para diversificar suas fontes de matérias-primas.

“As siderúrgicas chinesas querem reduzir um pouco sua dependência das mineradoras e ter um pouco mais de força nas negociações”, afirma o sócio do escritório Azevedo Sette Advogados, Fernando Azevedo Sette, especialista em fusões e aquisições. Não se espera que a China se torne autosuficiente na produção de minério de ferro, principalmente quando se considera que, juntas, Vale, Rio Tinto e BHP Billiton dominam 70% do mercado transoceânico da matéria-prima.

“O minério produzido na China tem baixo teor de ferro, e precisa ser misturado ao do Brasil, da Austrália ou da Índia. As siderúrgicas chinesas estão comprando ativos de mineração para ter garantia do insumo no futuro”, diz o analista da SLW Pedro Galdi. O analista do banco Sicredi Carlos Kochenborger, também destaca a preocupação dos chineses com o abastecimento futuro ao investirem no continente africano. “A África será um dos grandes fornecedores de matéria-prima – minerais e metais – no futuro. Os chineses estão se adiantando para aumentar sua influência no continente”, afirma Kochenborger.

A investida de siderúrgicas em minério de ferro não é um movimento isolado das siderúrgicas chinesas, ressalta o analista da Modal Asset Eduardo Roche. Num momento de demanda crescente por minério de ferro, as siderúrgicas brasileiras também estão aumentando suas apostas no setor de mineração.
Recentemente, o presidente da CSN, Benjamin Steinbruch, sinalizou que o tão esperado lançamento inicial de ações (IPO) da Casa de Pedra poderá finalmente ser realizado, e Usiminas e Gerdau divulgaram que pretendem avançar em mineração.

Desde o final do ano passado, as conversas no mercado sobre compra e venda de projetos de mineração aumentaram, segundo o especialista em fusões e aquisições do escritório Azevedo Sette Advogados. Na ponta vendedora, estão investidores cujo foco não é o setor, por exemplo, famílias que detêm direitos minerários, ou fundos que compraram esses direitos e querem se desfazer deles, conforme o advogado. Na ponta compradora, ficam mineradoras e
siderúrgicas.

Notícia publicada na Agência Estado em 17/03/2010