Tecnologia da informação


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Telefonia móvel, celulares trabalhando – A transmissão móvel de dados ganha espaço nas aplicações corporativas

Quando sai para trabalhar de manhã, o entregador da transportadora gaúcha Mercúrio leva um celular da empresa para ser informado das coletas que fará ao longo do dia. Essa troca de informações, antes feita por voz, agora acontece por mensagens de texto. Assim que o entregador aceita o SMS da central, o aplicativo desenvolvido em Java pela equipe de TI da Mercúrio dispara o download das informações da operação: nome do cliente, endereço da coleta, o que será coletado e quem é o contato.

O SMS funciona como um gatilho para forçar a sincronização do aparelho com a central, via GPRS. Quando a coleta é realizada, basta disparar um SMS de volta, informando direto ao banco de dados Oracle, na sede. Um minuto e meio depois, os clientes e as 93 filiais da empresa encontrarão a informação atualizada no sistema.

Batizado de Veículo Online, o sistema da Mercúrio entrou em teste há um ano e faz parte do cotidiano dos 60 entregadores de Porto Alegre. Eles utilizam celulares Nokia 6600 conectados à rede GSM/GPRS da Claro. A meta segundo Ademir Fração, presidente da empresa, é levar a solução a Paraná e São Paulo. Detalhe importante: além de dar agilidade às entregas e coletas, o sistema ajudou a reduzir em 65% os gastos da empresa com telefonia.

Como a Mercúrio, outras empresas registram ganhos de produtividade e redução de custos em aplicações de dados pelo celular, como a Spaipa, a CET e a Losango (veja reportagens nas páginas 94 a 99).

Outras, que dependem menos de mobilidade, oferecem serviços para facilitar a vida de clientes que não param e fidelizá-los. É o caso do Azevedo Sette Advogados. O escritório, especializado em direito empresarial, envia por e-mail a cerca de 1500 clientes cadastrados uma newsletter com informações jurídicas atualizadas, como jurisprudências, normas e pareceres. Se o cliente quiser saber mais sobre certo assunto, pode acessar uma página web (www.azevedosette.com.br/mobile ) criada em XHTML para celulares e PDAs com função WAP de qualquer operadora. O serviço, gratuito, começou em outubro e, segundo Ricardo Azevedo Sette, sócio-diretor, é um sucesso.

Já a Varig manda via SMS informações com o número do bilhete eletrônico, número do vôo, trecho, data e horário de partida aos clientes de primeira classe e executiva e aos participantes do programa de milhagem Smiles. Para os que tiverem número de celular registrado na reserva, vão por SMS avisos de alteração em programação de vôos e informações sobre a ponte aérea Rio—São Paulo.

As aplicações de mensagens multimídia (MMS) ainda são poucas, apesar do barateamento dos celulares com câmera. Uma experiência recente de utilização do MMS como meio de pagamento uniu a Warner, a Cinesystems e a Brasil Telecom GSM. De 17 a 20 outubro, as empresas distribuíram via MMS códigos de barras que valiam ingressos para a pré-estréia do filme A Noiva Cadáver, em salas de Curitiba e Porto Alegre. Na bilheteria, o dono do celular passava o aparelho em um leitor de código de barras para entrar. “O envio de código poderá ser também um meio de oferecer desconto na compra de produtos, entregar cupons ou convites para eventos, entre outras aplicações”, diz Paulo Matos, diretor de novos negócios da Brasil Telecom GSM.

Mas as novidades demoram para pegar no mundo corporativo. Segundo João Moretti, diretor de tecnologia da MoWA, desenvolvedora de aplicações de mobilidade, 45% das soluções adquiridas pelas empresas atualmente são voltadas para a comunicação, 17% para a automação e 13% para a localização por GPS. O segredo que as operadoras fazem sobre a participação do mercado corporativo em seu negócio indica que não há explosão de novas aplicações. Entre os motivos estão o preço e as limitações de recurso de processamento dos aparelhos, além de restrições da cobertura de tecnologias mais velozes. “Os desenvolvedores procuram adaptar as aplicações aos recursos disponíveis. O GPRS trabalha bem para baixar e-mail, tem uma boa cobertura, mas para navegar é um pouco lento”, diz Eduardo Tude, presidente da Teleco, empresa de pesquisas em telecom. “O CDMA lx tem cobertura mais limitada ainda, e o EV-DO só está disponível em hotspots”. Assim, se o profissional tiver de viajar pelo Brasil inteiro, terá de se contentar com taxas de transferência de dados bem baixas e mandar mensagens via SMS. E também enfrentar a concorrência de sinais em ambientes muito disputados, como os aeroportos, o que diminui a banda disponível.

A rigor, as aplicações corporativas de dados via celular estão em sua infância. “Este ano, vimos surgir serviços de sincronização de e-mails e maior uso de mensagens. Em 2006, veremos aplicações mais potentes, integradas a sistemas de gestão e CRM. As aplicações de força de venda serão mais analíticas e haverá maior impulso ao m-commerce”, afirma Raphael Balabanian, gerente de soluções para mobilidade do CPqD. “Isso deve acontecer primeiro nas multinacionais, por orientação das matrizes”. Conta a favor o crescimento da transmissão de dados integrada ao mundo IP, tanto em aplicações críticas como em navegação por browser. Além disso, a rede celular aceita criptografia e utilização de VPN na comunicação entre telefone e servidor, protegendo os dados.

As aplicações ricas em som e imagem ficam na dependência da terceira geração da telefonia celular. O leilão de licenças de 3G pela Anatel não tem data marcada e deve demorar, pelo menos, até que as operadores ampliem e consolidem as áreas de cobertura das tecnologias atuais. Acompanha o 3G na fila tecnológica a convergência do celular com a telefonia fixa. Para quem vive em trânsito, ter um número só e nem perceber a mudança de tecnologia seria o paraíso. Por enquanto, a Brasil Telecom, que opera linhas fixas e celulares, oferece um correio de voz integrado quando uma chamada é feita no fixo e você não atende, um alerta é enviado para o celular. Atualmente, as empresas podem alocar a uma linha fixa até sete telefones móveis.

InfoExame edição de novembro de 2005